A
fé é chamada na teologia católica de virtude teologal ou virtude infusa, por
tratar-se de algo que o ser humano possui ou é capaz de fazer graças à
iniciativa divina. Virtude quer dizer força que torna capaz, mas expressa
também um jeito de ser que é conquistado pelo esforço pessoal.
Assim
sendo, a fé é o primeiro, o maior e o mais bonito dos dons que Deus concedeu
aos seres humanos, depois da própria existência. Mas é também uma das atitudes
que melhor caracteriza a pessoa humana como tal. É expressão da liberdade
tocada pela graça divina que pode, então, estabelecer com Deus uma relação de
amizade, confiança, obediência e compromisso.
Por
meio da fé o homem e a mulher de todos os tempos se reconhecem e se assumem
como capazes de dialogar com Aquele que é a sua origem e a sua meta.
Pela
fé o ser humano se abre a Deus encontrando n'Ele a luz que faz compreender o
significado da sua existência sobre a Terra. É ainda na fé que as
situações-limite da vida, tais como a doença, a morte, ou o sofrimento --que
fazem surgir no íntimo de cada pessoa humana um agudo "por quê?"--
encontrarão o apoio para não tornar-se ocasião de desespero ou revolta.
Poder-se-ia
comparar a fé com a janela de uma casa, através da qual entram a claridade e o
ar fresco, pode-se contemplar as belezas que existem no exterior, pode-se ver
as pessoas e com elas falar amigavelmente, encontra-se inspiração para viver
com serenidade e alegria e, até mesmo, pode-se realizar uma fuga em face de um
momento de perigo.
Pela
fé o ser humano se configura a um modo de viver que não se fundamenta nele
mesmo, mas na identidade, na sabedoria e na bondade divinas. No cristianismo
tais características são conhecidas por meio da Revelação cujo ponto alto se dá
em Jesus Cristo, o Filho de Deus que se fez homem e veio viver junto da humanidade
para abrir-lhe caminhos novos. Nesse caso fala-se de fé cristã que, por
tratar-se da amizade, confiança, seguimento e compromisso com Cristo, torna as
pessoas capazes de ser no mundo presença que faz diferença, enquanto as
caracteriza como seguidoras d'Ele e atualizadoras de seu jeito de ser e agir.
A
fé cristã é também um impulso que direciona o ser humano para os seus
semelhantes na construção da fraternidade e da solidariedade. Portanto, nunca é
cômoda nem individualista, estática ou voltada apenas para as realidades
espirituais. Ela comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo,
transmitir valores e deixar a Terra um pouco melhor.
A
consciência de que o mundo com sua beleza e diversidade saiu de Deus e foi
presenteado aos seres humanos para o seu conforto e cuidado, nasce também da fé
cristã, que faz ver a natureza como um dom de amor a ser acolhido com gratidão
e uma preciosidade a ser preservada com respeito.
Por
fim, a fé cristã favorece a compreensão de que a morte não é a última palavra
para o ser humano, que pode acreditar na vida eterna e esperar a ressurreição.
Não
se pode negar que embora a fé seja um dom, é igualmente uma tarefa, que cada
pessoa assume livremente para fazer crescer e frutificar referenciais sólidos,
na sua própria vida e para os que estiverem ao seu redor.
A
fé se alcança como realidade permanente e que caracteriza a existência de uma
pessoa por meio da decisão de crer em cada situação concreta da vida. Não se
trata de uma decisão a que se chega como consequência necessária depois de
percorrer algumas etapas. Crer é sempre querer crer !
Na
Encíclica Lumen Fidei (A Luz da Fé), do Papa Francisco, há uma brilhante
definição da fé como algo que faz toda diferença para a existência humana:
"a fé não é luz que dissipa todas as nossas trevas, mas lâmpada que guia
os nossos passos na noite, e isto basta para o caminho" (n. 57).
Desde essas
considerações se pode dizer que a fé é uma realidade extremamente útil e
necessária para que a vida encontre a sua meta, seja menos dura, torne-se
fecunda pelo exercício da verdade e do bem e exale, ainda no tempo, o perfume
da eternidade, e pela qual vale a pena empenhar-se.
Padre Edinei Evaldo Batista
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